A quem servirá a riqueza do Pré-sal?

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Por: José Álvaro de Lima Cardoso*

 

A análise da conjuntura política e econômica nacional sempre pode ser iniciada a partir de um tema central qualquer como mercado de trabalho, nível de crescimento, política de juros, política cambial, etc. O debate abordado inicialmente por uma dessas conexões, se tempo houver, necessariamente se tornará mais abrangente, dada a intrínseca inter-relação destes elementos na vida ou na economia reais. O tema “Petrobrás” possui essa rica propriedade, razão pela qual é uma ótima escolha analisar a conjuntura tomando-o como ponto de partida.

É quase impossível discutir esse tema a partir de uma perspectiva “exclusivamente técnica” (se é que isso alguma vez foi possível), pois a Petrobras representa, do ponto de vista político, um “desejo” do povo brasileiro, muitas vezes difuso, conduzido estrategicamente pelos seus representantes, de conquista de soberania e de busca de um projeto nacional de desenvolvimento. A fundação da empresa em 1953, é bom ter clareza, foi, entre outras coisas, uma tremenda ousadia do Brasil e seus líderes: fundar uma empresa com elevado nível de excelência (hoje reconhecido mundialmente), num país periférico, numa das áreas mais complexas da atividade humana, na qual os países centrais dispunham, já naquela época, de elevado expertise.

Parte significativa das motivações do “terceiro turno” das eleições, que o país ainda atravessa, se explica pelo fato de que o Petrobras é um sólido obstáculo aos poderosos (e dissimulados) interesses econômicos internacionais, que envolvem cifras verdadeiramente espantosas. Este assunto não é novo. A campanha contra o Governo Getúlio Vargas, em boa parte, foi motivada pela fundação da Petrobras. Contra a política e o significado do “Petróleo é Nosso”, maior campanha política da História do País. A empresa foi criada com fortíssima oposição, com as multinacionais e seus representantes internos afirmando que não havia petróleo no Brasil, e que, caso houvesse, o país não teria condições técnicas e financeiras de explorá-lo.

A Operação Lava Jato, que investiga os roubos na Petrobras, constatou até o momento um desvio de R$ 800 milhões na Empresa. Estimativas do Ministério Público Federal avaliam que o desvio possa ter chegado a R$ 2,1 bilhões. No entanto o pré-sal, que é o que realmente interessa aos que manipulam os cordões nesse pesado e complexo jogo de marionetes, envolve valores que podem chegar a 20 trilhões de reais. O que está em jogo é: a riqueza que se encontra no Brasil (que mudou a inserção do Brasil no mundo) vai para saúde e educação do povo brasileiro ou para as contas bancárias da burguesia dos países ricos? As multinacionais do petróleo já têm uma posição bastante definida sobre o assunto e estão agindo vigorosamente para fazer valer suas posições.

O que explica tanta exposição na mídia dos detalhes da Operação Lava Jato (quando os valores comprovados na Operação Zelotes já superam largamente os daquele escândalo) senão o poder das multinacionais do Petróleo e a subserviência vergonhosa da mídia nacional e de alguns políticos que se dizem brasileiros? Só o valor dos depósitos de 8.667 ricaços brasileiros no escândalo do HSBC da Suíça, fugindo à tributação no país e, portanto, desviando recursos públicos, é de R$ 20 bilhões, 10 vezes o valor a que pode chegar a operação lava jato.

Poucas coisas existem no mundo mais fáceis do que defender a Petrobras. Mas a agenda conservadora vem balizando o debate na sociedade neste momento, o que torna a operação bem mais difícil. Especialmente porque há uma conspiração em marcha para desestabilizar o governo, ainda que à custa da desorganização da economia e da destruição da Petrobras. Por exemplo, o Ministério Público Federal, em fevereiro, ajuizou ações contra as empresas envolvidas na operação Lava Jato, cobrando R$ 4,47 bilhões (várias vezes os desvios constatados) o que significa, na prática, a inviabilização da continuidade das empresas. O risco real é quebrar todas as empresas, destruir os seus ativos, de centenas de bilhões de dólares em refinarias, portos, navios, complexos petroquímicos e plataformas de petróleo. As empresas diretamente afetadas pela ação do Ministério Público envolvem cerca de 500 mil empregos qualificados.

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*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina

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