Metalúrgica Duque: Trabalhadores mobilizados lutam para receber os salários atrasados
Sem salário desde novembro, os trabalhadores da Metalúrgica Duque de Joinville começaram o ano lutando pelos seus direitos
Escrito por: Sílvia Medeiros
Debaixo de um sol de mais de 30 graus, na tarde do dia 10 de janeiro, duzentos trabalhadores da Metalúrgica Duque escutaram atentamente as orientações do presidente do Sindicato dos Mecânicos, Evangelista dos Santos, com a esperança que as palavras dele, trouxessem a solução para mais de um mês sem receber. Evangelista, que também é funcionário da Duque, não trouxe boas notícias. Apresentou a proposta feita pelo patrão dia 08 de janeiro, em que ele pedia que os trabalhadores retornassem ao trabalho com o compromisso que o salário de dezembro seria pago dia 30 de janeiro, o outro dia 28 de fevereiro e a parcela do décimo terceiro que também não foi paga, seria quitada em março. Os trabalhadores não aceitaram.
Um natal sem presentes, sem ceia e sem festas, este foi o final de ano da maioria dos trabalhadores da Duque. Para pagar as dívidas, como aluguel, financiamentos e prestações, muitos fizeram bicos de servente de pedreiro, diarista, garçom e várias outras atividades que trouxessem o mínimo de remuneração para que eles pudessem pagar suas contas. “Na minha casa não tivemos Natal e Ano Novo. Passei o mês inteiro fazendo bicos, pois além das contas que temos todo mês, a minha esposa passou por uma cirurgia e eu precisava de dinheiro para comprar os medicamentos”, relatou José Ildo da Silva, auxiliar de produção da Duque há quase dois anos.
A empresa esta com os portões fechados desde dezembro, quando orientou os funcionários para que ficassem em casa, pois não tinha matéria-prima e muito menos serviço para trabalhar. A previsão de retorno era em janeiro, mas quando os trabalhadores voltaram, encontraram a empresa com os portões fechados e os salários atrasados. “Uma dispensa dessa nunca ocorreu, ficamos desconfiados que no retorno, isso pudesse acontecer”, indagou Mauro Roberto Pereira, funcionário há mais de 30 anos da empresa.
A Metalúrgica Duque é uma das maiores metalúrgicas de Joinville, emprega mais de mil trabalhadores e é especializada na produção de peças para bicicletas, veículos, ciclomotores e eletrodomésticos, a empresa passa por uma crise desde meados do ano passado. “No ano de 2013 ficou escancarado o problema financeiro da Duque, fizemos várias manifestações, entramos em estado de greve e os diretores da empresa se comprometeram a manter os salários em dia, mas todo final de mês era uma luta para que eles cumprissem o prometido aos trabalhadores”, declarou Liliana Piscki Maes, Secretária de Formação da CUT-SC e também funcionária da Metalúrgica Duque.
Olhares preocupados e braços cruzados – Os sentimentos dos trabalhadores esta dividido, alguns ainda estãoEvangelista dos Santos, conversa com os trabalhadores de uniforme e acreditam na recuperação da empresa, outros estão tão desolados que só querem a liberação da carteira de trabalho para que possam buscar outro emprego. “A gente não tem expectativa, não temos material para trabalhar, todo final de mês esta virando uma briga para receber o salário, eu só quero que eles me deem a rescisão para que eu possa pegar os meus direitos e procurar outro serviço”, declarou Rosana Dalabona, operadora de máquina a três anos da Duque.
Agora há os que acreditam na recuperação da empresa, que acham que uma ajuda política poderia impulsionar a produção da metalúrgica e consequentemente manter os postos de trabalho. “Precisamos de uma ajuda política para que possamos trabalhar. Aqui tem condições de virar, é um sonho, mas nós acreditamos”, destacou José Ildo, que com mais de 60 anos de idade, também esta preocupado em não encontrar serviço caso saia da Duque.
A situação da empresa é grave. A energia elétrica foi cortada, a Duque não tem crédito para comprar matéria-prima e acumula grandes dívidas com fornecedores e principalmente com os trabalhadores. Funcionários que pediram a conta em outubro receberam apenas metade dos seus pagamentos e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, não esta sendo depositado há dois anos. “Eu recebi o meu extrato do FGTS e tinha sete reais depositados, eles estão me roubando desde que entrei na empresa”, declarou uma funcionária de produção que preferiu não se identificar.
O Sindicato dos Mecânicos, vai fazer uma reunião na próxima semana, para pensar estratégias e ações para os trabalhadores da Duque. Evangelista orientou que os trabalhadores que querem o desligamento da empresa, podem procurar o setor jurídico do Sindicato para entrar com processo de rescisão indireta, que acontece quando o patrão não cumpre clausulas do contrato de trabalho.
A CUT-SC esta junto com o Sindicato dos Mecânicos pensando soluções que garantam que os trabalhadores não saiam prejudicados nesse período de crise da empresa. “Início de ano que geralmente estamos lutando por aumentos salarias, aqui na Duque lutamos para que o patrão cumpra a sua responsabilidade mínima, que é pagar os trabalhadores pelos serviços feitos”, declarou Anna Julia Rodrigues, Secretária Geral da CUT-SC, que acompanhou a Assembleia dos trabalhadores em Joinville. “Quem gera a verdadeira riqueza desta empresa, quem garante altos padrões de vida para os patrões, são os trabalhadores. Lutaremos até o fim, para que todos os pais e mães ou jovens trabalhadores desta empresa, não tenham os seus direitos desrespeitados”, salientou Anna Julia.
Foto: Sílvia Medeiros.
Fonte: Cut/SC.